Olho em volta. É agora ou nunca.
Pedem um voluntário para falar. Sobre qualquer coisa. Então, eu percebo. Se eu
quero mudar o mundo, tenho de começar por algum lado. É tempo de engolir toda a
vergonha de palcos, microfones e de falar em público.
- Não gosto do mundo em que vivo. Cada vez que olho à minha volta,
sinto-me mais e mais perdida. Acho que já não pertenço mais a este sítio. As
pessoas matam-se por ninharias. Homens matam mulheres porque elas querem a
separação. Pais matam filhos para chantagearem as mães. As pessoas ligam a
coisas demasiado físicas, demasiado materiais. Esquecem-se de que existem
sentimentos, que todos nós possuímos um lado emocional para além do lado
racional. Acham que o dinheiro é mais importante que tudo o resto. Mais, acham
que o dinheiro pode comprar tudo, até felicidade e amor. Mas sabem que mais?
Nada disto faz sentido. Nada neste mundo faz sentido. É tudo tão ilógico, tão
irracional. Que raio de mundo é este? Que raio de lugar é este? Todos os dias
ouvimos que morreram não sei quantas pessoas aqui ou ali. Todos os dias ouvimos
dizer que mais não sei quantos imigrantes fogem dos seus países. Toda a gente
parece tão infeliz… Mas ninguém se preocupa em descobrir a fórmula da
felicidade. Nem por um segundo as pessoas parecem querer parar para pensar no
que é que está mal e no que é que podem mudar para que tudo fique bem. –
suspiro – Eu sei que vocês pensam que eu
sou só mais uma iludida que quer mudar o mundo. Mais uma feminista que quer que
as mulheres sejam aceites como seres iguais, em direitos, aos homens. Mais uma sonhadora que
deseja que haja paz e felicidade no mundo. Talvez eu seja tudo isso, sim. Mas
mais que tudo isto, eu sou um ser humano. Eu olho à minha volta e vejo
muitos seres humanos, sim, mas… Onde está a humanidade? Onde está a
civilização? Onde estão os direitos do Homem? Para onde foi a fidelidade, a
lealdade, o amor, a esperança? Meu Deus, será que este mundo está completamente
perdido? Eu não creio. Acho que, sim, ainda há esperança na criação de um mundo
novo e melhor. Mas todos precisamos de trabalhar na construção desse mundo. Não
podem ser só os “iludidos” e os “sonhadores” e os “feministas” ou os “hippies”…
Temos de nos unir todos por esta causa. – faço uma pequena causa – Seremos todos só mais uma causa perdida?
Não. Eu acredito que todos temos um papel, uma missão neste mundo, só temos de
o descobrir. – penso um pouco – Não
vos maço mais. Acho que as minhas palavras já nem fazem sentido. Mas eu juro
que são todas sentidas. Só queria pedir-vos que pensassem, só por um segundo,
nas minhas palavras. Gostava que tentassem descobrir qual a vossa missão no
mundo e que trabalhassem nesta mudança coletiva. O mundo precisa de nós. O
mundo conta connosco.
Aplausos foram ouvidos na sala.
Mas eu ainda me pergunto… Será que alguém realmente
ouviu o que eu disse? Nunca saberei.
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