Lembro-me de que sempre fui
reguila. Não é bem lembrar, porque quando somos pequenos não temos noção do que
fazemos, mas é assim que os meus familiares me descreviam. Era para ser um rapaz, dizem os meus pais, convencidos de que isso
possa ser uma explicação.
Mas sei que também era mazinha.
Contam-me que rasguei uma folha de um livro da escola da minha irmã e que lhe
dei com uma vassoura na cabeça.
Acho graça a isso. Não ao facto
de lhe ter rasgado o livro ou dado com a vassoura na cabeça, mas no facto de me
comportar como está já estereotipado. Irmãs/irmãos não foram feitos para serem
amigos durante a infância. Há que pigarrear, discutir, acusar, fazer birras…
Afinal, o que é a infância sem tudo isso?
Tenho saudades. Não de ser
reguila, porque como disse era demasiado pequena para ter noção de tal coisa,
mas de ser criança. De poder fazer todas as asneiras e no fim ser sempre
desculpada porque era uma criança. De
poder discutir, pigarrear, acusar, fazer birras e tudo isso com a minha irmã
livremente sem a minha mãe vir reclamar 'o
que é isso? Já não são nenhumas crianças!' De ser demasiado inocente para
compreender a maldade do mundo em que vivemos, para compreender que nem todas
as pessoas são príncipes e princesas que vivem em castelos encantados, longe
dos ogres e dos monstros.
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