Já me
questionei várias vezes e em diversas ocasiões sobre a época em que nasci,
sobre as pessoas da minha geração e aquilo que temos em comum. Sempre que o
faço concluo que devia ter nascido noutra época porque sei que penso de forma
diferente da grande maioria das pessoas da minha idade. Não ouço a mesma
música, não vejo os mesmos filmes nem séries, não desprezo o que é nacional,
não abomino a escrita ou a leitura e até gosto de estudar, bem como não finjo
ser o que não sou para agradar aos outros (apesar de às vezes achar que é
melhor não dizer uma determinada coisa porque o meu ponto de vista não vai ser
compreendido). Resumidamente, não estou a dizer que sou uma incompreendida –
porque não sou – nem estou a dizer que sou uma alternativa – porque também não
o sou – mas sei que sou um bocadinho diferente da generalidade da minha
geração.
Sempre gostei
imenso de ler e de escrever, ouço quase todo o tipo de música e considero-me
uma pessoa patriótica – e com isto não quero apenas dizer que apoio a seleção
nacional, mas pretendo dizer que ouço música portuguesa, que vejo filmes e
séries portuguesas e que me interesso pela cultura que o meu país produz e que
tenho orgulho em ter nascido aqui. Continuando… De há uns tempos para cá,
comecei a ouvir música “fora do meu tempo”, nomeadamente dos anos 80, e cheguei
à conclusão de que é a minha década de música favorita. Temos de tudo um pouco,
uma enorme variedade musical e toda de uma grande qualidade. E é aqui que eu
chego ao ponto inicial deste texto: pesquisando um pouco sobre o contexto
sociocultural dos anos 80 e sobre os acontecimentos marcantes dessa década, e
tendo em conta que é a minha década de música favorita, eu conclui que gostava
de ter vivido nela. Gostava de ter vivido nesse Portugal pós 25 de abril onde o
nosso país se abriu ao mundo e a tudo o que vinha de fora, a cultura se
expandiu e todo o mundo evoluiu. Talvez isto seja demasiado idealista mas é
assim que vejo essa década e é assim que penso agora, em pleno século XXI
(talvez quem tenha vivido no Portugal dessa década discorde de mim).
Bem, todo este
paleio vem a propósito de eu ter decidido começar a ver uma série de produção
nacional chamada 1986,
criada por Nuno Markl. Obviamente que já tinha ouvido falar dela e até já
tinha pensado que gostaria de ver e que havia de ser interessante, mas o click deu-se em mim quando ouvi a música
interpretada por Tatanka
e Márcia, O Que É Que Vês, que
faz parte da banda sonora da série. Gostei tanto da música, a letra pareceu-me
tão gira que achei que tinha de, pelo menos, dar uma oportunidade à série. E
assim o fiz. Impressão após o primeiro episódio: é engraçada e é bom
entretenimento. Opinião final? Têm de acabar de ler este post para descobrir.
Mas, afinal,
sobre o que é que fala esta história?
Como dá para
perceber pelo título, esta é uma série que se passa no ano de 1986 em Portugal,
durante a segunda volta intensa de umas eleições presidenciais polémicas que
opuseram Mário Soares (esquerda) a Freitas do Amaral (direita). Este duelo
político é a base da série, que conta também a história de Tiago, um jovem nerd cujo pai é comunista ferrenho, que
se apaixona por Marta, a betinha idealista filha de pais conservadores e
apoiantes de Freitas do Amaral. (Trailer)
Para mim, uma
das coisas mais interessantes nesta série é a replicação dos ambientes, das
roupas e dos costumes da época, em que ainda existiam cassetes e videoclubes,
em que não existiam telemóveis nem internet e em que ainda se ouvia música em
gira-discos. Acho todo esse ambiente super contagiante e fascinante, além de
que sinto que estou a conhecer coisas sobre a história do meu próprio país que
ignorava completamente – por exemplo, não tinha ideia nenhuma que tivessem
existido tão intensas eleições em Portugal, que opusessem tão severamente dois
candidatos a ponto de todo o país, até os jovens, estar envolvido nelas e a
taxa de abstenção ter sido mínima.
Sinceramente,
acho que é uma série bestial, de génio, para todas as idades. Para quem viveu
essa época é muito bom para recordar e para pensar ‘ah, as coisas eram mesmo assim’ ou ‘aquele podia ser eu’; para quem não a viveu, acho que é
interessante percebermos como as coisas eram e o passado do nosso país e dos
nossos pais, avós, etc. Recomendo vivamente a toda a gente que ler este post que, pelo menos, dê uma
oportunidade a esta série maravilhosa.
Para a malta
da minha idade que é pouco recetiva a estas “portuguesices de pouca qualidade”
e a toda a cultura que é produzida em Portugal, acho que deviam tentar dar um
pouquinho de mais valor ao nosso país e àquilo que cá se faz porque, embora “a
galinha da vizinha seja sempre melhor que a minha”, há muito talento por cá e
fazem-se coisas de grande qualidade que apenas precisam de ser devidamente
valorizadas.
Espero que
tenham gostado do post, fico a
aguardar reações desse lado!
Comentários
Enviar um comentário